terça-feira, 25 de maio de 2010

Crítica - O Vale das Bonecas

Blog Esmiuça o Livro


«A palavra que melhor define este livro é inesquecível….


"O Vale das bonecas" é a história de Anne, Neely e Jennifer.
Anne: ingénua e doce, mas ansiosa por descobrir tudo o que a vida tem para oferecer…
Neely: um espírito rebelde. Órfã desde a mais tenra idade, só ambiciona uma coisa na vida – rios de dinheiro!
Jennifer: com um corpo de fazer parar o trânsito, este imã sexual só deseja uma coisa – casa e assentar.


Mas quando os sonhos da vida se despenham contra os rochedos da desilusão, precisam de algumas «bonecas» – comprimidos calmantes, excitantes, ansiolíticos ou opiáceos – para sobreviver…
O que mais me admirou foi de como um livro escrito em 1969 se manter tão actual, realmente é um romance intemporal. Em que os medos, desafios e vontades descritos nas personagens são os mesmos que nós sentimos. Uma crítica ao tempo após guerra mas que se aplica aos nossos tempos.
O livro fala de relações amorosas, traições, aparências, sacrifícios e principalmente a capacidade do ser humano sobreviver e aceitar. Nem sempre da forma mais correcta mas a que é capaz.
Não o considero um livro leve, mas um livro com uma escrita directa e simples com um enredo bem construído. Principalmente um livro com uma mensagem com a qual nos identificamos.
Para mim um livro inesquecível. Fácil de entender a crítica do The Guiness Book World Records “O MAIOR BEST-SELLER DE TODOS OS TEMPOS”.»

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Excerto - "O Beijo dos Elfos"

«[...]

Na manhã seguinte, Laurel acordou com um leve formigueiro entre as omoplatas. Esforçando-se por não entrar em pânico, correu até à casa de banho e esticou o pescoço para examinar as costas no espelho.

O alto era maior do que uma moeda americana de vinte e cinco cêntimos!

Aquilo não era nenhuma borbulha. Tocou-o com cuidado e sentiu um formigar estranho e persistente em todos os sítios onde os dedos tinham roçado. Num acesso de pânico, agarrou a camisa de dormir ao peito e saiu a correr para o corredor em direcção ao quarto dos pais. Tinha acabado de levantar a mão para bater à porta quando se obrigou a parar e a respirar fundo.

Olhou para baixo, para si mesma, e sentiu-se de súbito bastante ridícula. O que é que lhe passara pela cabeça? Estava no corredor com pouco mais do que a roupa interior vestida. Envergonhada, afastou-se da porta dos pais e regressou furtivamente à casa de banho, fechando a porta o mais depressa e discretamente que conseguia. Voltou a virar-se de costas para o espelho e examinou o inchaço. Deslocou-se para o contemplar de vários ângulos diferentes, até se convencer de que era muito menor do que julgava.

Laurel havia sido educada com a ideia de que o corpo humano sabia cuidar de si mesmo. A maior parte das coisas, quando deixadas em paz, resolviam-se por si. Tanto o pai como a mãe se regiam por esse princípio. Eles nunca iam ao médico, nem sequer para obterem receitas de antibióticos.

– É só uma borbulha gigantesca e vai desaparecer por si – tranquilizou ela o seu próprio reflexo, com um tom de voz que soava exactamente ao da mãe.

Vasculhou na gaveta da mãe e encontrou um recipiente com o unguento que ela preparava todos os anos. Tinha alecrim, lavanda, óleo de árvore de chá e sabe-se lá que mais, e a mãe aplicava-o em tudo.

Mal não iria fazer.

Tirou uma dedada do unguento de odor doce e começou a esfregá-lo nas costas. Com o formigueiro causado pela irritação das mãos sobre o inchaço e o ardor do óleo de árvore do chá, as costas de Laurel estavam ao rubro quando enfiou a camisa de noite pela cabeça e, com os ombros comprimidos contra a parede, fugiu para o quarto.

Optou por uma T-shirt larga de manga curta e costas completas, ao estilo das de basebol, para aquele dia. A maior parte das camisolas cavadas que possuía provavelmente ocultariam o alto, mas não queria arriscar. Aquela coisa não podia crescer mais sem se tornar toda repelente, e, quando isso acontecesse, Laurel preferia tê-la bem escondida. Formigava sempre que algo roçava nela – o cabelo comprido, a T-shirt, quando a enfiava pela cabeça – e, claro, sempre que a tocava para comprovar que era real. Quando, por fim, se encaminhou para o piso de baixo, Laurel estava convencida de que todos os nervos do seu corpo comunicavam com o inchaço.

Quando chegou a quinta-feira, tornou-se insustentável continuar a acreditar que o que tinha nas costas não passava de uma borbulha. Não só a coisa continuara a crescer ao longo dos últimos dois dias, como parecia estar a crescer mais rápido. Naquela manhã, era do tamanho de uma bola de golfe.

Laurel descera para tomar o pequeno-almoço determinada a contar aos pais sobre aquele estranho inchaço. Chegara mesmo a tomar fôlego e a abrir a boca para desabafar de uma vez por todas.

No entanto, à última da hora, acobardara-se e limitara-se a pedir ao pai para lhe passar o melão.

Com as T-shirts que andava a usar nos últimos dias e o encobrimento que o cabelo comprido lhe dava, agora sempre solto, ninguém reparara ainda no alto, mas seria apenas uma questão de tempo – especialmente, se continuasse a crescer. «Se», repetia Laurel para si mesma vezes sem conta, «se continuar a crescer. Talvez aquilo da mãe tenha resolvido o problema.»

Já havia três dias seguidos que aplicava o unguento naquilo, mas não parecia estar a ter grande efeito. Também, pudera! Algo que ficava daquele tamanho tão depressa não podia ser uma coisa passível de ser tratada apenas com um oleozito de árvore do chá, pois não? Talvez fosse um tumor. Tinha a certeza de ter lido alguns artigos sobre pessoas que tinham tido tumores espinais. Laurel respirou fundo. Um tumor parecia-lhe uma causa bastante provável.

– Ei? Por acaso estás a ouvir-me? – A voz de Chelsea interrompeu-lhe os pensamentos e ela virou o rosto para a amiga.

– Quê?

Chelsea simplesmente riu-se.

– Bem me parecia que não. – Em seguida, mais brandamente: – Estás bem? Estavas completamente nas nuvens.

Levantou a cabeça e, por um segundo, não foi capaz de se lembrar da aula que ia ter.

– Estou óptima – murmurou, irritadamente. – Estava só a pensar.

Chelsea perscrutou-lhe o rosto por alguns segundos e depois ergueu uma sobrancelha céptica.

– Está bem.

David juntou-se-lhes e, quando Chelsea os deixou para se encaminhar para a sua aula, Laurel tentou andar mais rápido de forma a avançar à frente dele. Ele estendeu o braço e puxou-a para trás.

– Vais tirar o pai da forca, Laury? Ainda faltam três minutos para tocar.

– Não me chames isso – retorquiu com brusquidão antes que o pudesse evitar.

Ele cerrou a boca e não disse mais nada enquanto o fluxo de pessoas os contornava.

Laurel deu voltas à cabeça em busca de palavras para se desculpar, mas o que é que havia de dizer? «Desculpa, David, é que estou enervada porque sou capaz de ter um tumor.» Em vez disso, afirmou:

– Não gosto de alcunhas.

Entretanto, já ele firmara o seu sorriso valente.

– Não sabia. Desculpa. – Passou os dedos pelo cabelo. – Estás… – A voz perdeu-se e ele pareceu mudar de ideias. – Anda; eu acompanho-te à tua aula.

Agora sentia-se embaraçada ao caminhar ao lado dele. Virou-se para ele quando chegaram à sala, e acenou.

– Tchau.

– Laurel?

Deu meia-volta para olhar novamente para ele.

– O que fazes no sábado?

Hesitou. Estava ansiosa por voltar a combinar algo e, até àquela manhã, tinha dado voltas à cabeça, à procura de uma forma descontraída de colocar a pergunta. No entanto, talvez não fosse uma boa ideia.

– Pensei que podíamos reunir um grupo e fazer um piquenique, talvez com uma fogueira. Conheço um ponto óptimo na praia. A Chelsea disse que vinha, e também o Ryan, a Molly e o Joe. E houve mais algumas pessoas que disseram que talvez fossem.

Comida, areia e uma fogueira fumarenta. Nada daquilo lhe parecia divertido.

– Está algum frio, na verdade não dá para ir para a água, mas… sabes como é. Normalmente, há sempre alguém que é empurrado. É divertido.

O sorriso falso de Laurel esmoreceu. Odiava o toque da água salgada na pele. Mesmo depois de um duche, continuava a senti-la; como se o sal tivesse penetrado nos poros. Da última vez que nadara no oceano, acabara por passar os dias seguintes com uma sensação de moleza e de cansaço. Além disso, não haveria forma de ocultar o inchaço – ou o que quer que aquilo fosse – com um fato de banho.

Estremeceu ao indagar qual seria o seu tamanho dentro de dois dias! Não podia ir, mesmo se quisesse.

– David, eu… – Odiava dizer-lhe que não. – Não posso.

– Porque não? – inquiriu.

Podia dizer-lhe que tinha de trabalhar na livraria – até às semanas anteriores, ela tinha passado praticamente todos os sábados enfiada lá a ajudar o pai –, mas não conseguia forçar-se a mentir. Não a David.

– Simplesmente, não posso – murmurou e esquivou-se pela porta sem se despedir.

Pela manhã de sexta-feira, o alto tinha o tamanho de uma bola de softball. Era definitivamente um tumor. Laurel nem se deu ao trabalho de ir à casa de banho para o examinar. Conseguia senti-lo.

T-shirt alguma seria capaz de ocultar aquilo.

Laurel teve de vasculhar no fundo do roupeiro até encontrar uma blusa fofa que ao menos camuflasse a protuberância. Esperou no quarto até ser hora de ir para a escola e depois correu escadas abaixo e porta fora apenas com um grito de «Bom dia» e «Adeus» para os pais.

O resto do dia arrastou-se interminavelmente. O inchaço formigava agora a toda a hora, e não apenas quando lhe tocava. Não conseguia pensar em mais nada; era como um zumbido persistente na cabeça. Não falou com ninguém à hora de almoço e sentiu-se mal por isso, mas não conseguia concentrar-se em nada com as costas a arderem-lhe daquela maneira.

Quando, por fim, terminou a última aula, ela tinha dado quatro vezes uma resposta errada às perguntas da professora. As questões tinham-se tornado progressivamente mais fáceis, como se a señora Martinez estivesse a tentar dar-lhe uma oportunidade para se redimir, mas a professora bem podia estar a falar suaíli. Assim que deu o toque de saída, Laurel saltou da cadeira e encaminhou-se para a porta, à frente de todos. E, definitivamente, antes que a señora Martinez a pudesse encurralar para a questionar sobre o seu desempenho catastrófico.

Viu David e Chelsea a tagarelarem junto ao cacifo desta, pelo que tomou o sentido contrário e apressou-se a sair pelas portas das traseiras, a rezar para que nenhum deles se virasse e a reconhecesse pelas costas.

Assim que se escapou da escola, atravessou o campo de futebol, sem saber ao certo para onde ir numa cidade que ainda lhe era pouco familiar. Enquanto andava, não conseguia afastar o crescente temor. «E se for cancro? O cancro não desaparece simplesmente. Talvez devesse contar à mãe.»

– Segunda-feira – murmurou entre dentes, com o ar frio a açoitar-lhe o cabelo. – Se não desaparecer até segunda, eu conto aos meus pais.

Trepou pelas bancadas, com os pés a martelaram a cada degrau de metal que subia, até alcançar o topo. Permaneceu encostada à balaustrada a contemplar a linha do horizonte a ocidente, pelo cimo das árvores. Estar tão acima da área circundante fazia-a sentir-se separada e à parte. Era apropriado.

Ergueu a cabeça bruscamente ao ouvir passos atrás de si. Quando se virou, deparou-se com o rosto bastante embaraçado de David.

– Oi – cumprimentou ele.

Laurel não disse nada enquanto o alívio e a irritação que sentia se gladiavam na sua mente. O alívio estava a ganhar.

Ele acenou com a mão para o lugar onde ela estava.

– Importas-te que me sente?

Laurel permaneceu quieta por um momento, em seguida sentou-se na bancada e deu uma palmadinha no lugar ao lado com um sorriso ténue.

David sentou-se cautelosamente junto a ela, como se não confiasse no convite.

– Não era minha intenção seguir-te – desculpou-se, inclinando-se para a frente e apoiando os cotovelos nos joelhos. – Ia esperar por ti lá em baixo, mas... – encolheu os ombros – que queres que te diga? Sou impaciente.

Laurel não respondeu.

Permaneceram um longo tempo sentados em silêncio.

– Estás bem? – perguntou David, com a voz a soar anormalmente alta ao ressaltar nas bancadas metálicas vazias.

Laurel sentiu as lágrimas queimarem-lhe os olhos, mas obrigou-se a pestanejar para as conter.

– Hei-de ficar.

– É só que tens andado tão quieta a semana toda.

– Desculpa.

– Eu… eu fiz alguma coisa?

Ela ergueu a cabeça bruscamente.

– Tu? Não, David. Tu… tu tens sido óptimo. – Sentiu a culpa instalar-se e forçou um sorriso. – Só tive um dia mau, só isso. Com o fim-de-semana passa-me. Na segunda estarei melhor. Prometo.

David disse que sim com a cabeça e voltou a instalar-se o silêncio, pesado e incómodo. Em seguida, ele aclarou a voz.

– Posso acompanhar-te a casa?

Ela abanou a cabeça.

– Vou ficar aqui um bocado. Eu fico bem – acrescentou.

– Mas… – Não continuou. Limitou-se a assentir, depois levantou-se e começou a afastar-se. Em seguida, virou-se. – Se precisares de alguma coisa sabes o meu número, certo?

Laurel respondeu afirmativamente com a cabeça. Tinha-o apontado no quadro de avisos da família assim que chegara a casa e agora já o sabia de cor.

– Tudo bem. – Ele deslocou o peso de um pé para o outro e depois virou-se. – Agora vou-me embora.

Precisamente quando estava a desaparecer de vista, Laurel chamou-o.

– David?

No entanto, quando se virou para ela, com o rosto tão sincero e aberto, ela perdeu a coragem.

– Diverte-te amanhã – disse ela, sem grande convicção.

O rosto dele abateu-se ligeiramente, mas ele anuiu, deu meia-volta e continuou a afastar-se.

Nessa noite, Laurel sentou-se no toucador da casa de banho a fitar as costas. Caíam-lhe lágrimas pelas faces enquanto aplicava mais uma vez o unguento. Ainda não surtira qualquer efeito e a razão lógica dizia-lhe que nada faria desta vez, mas alguma coisa ela tinha de tentar.
[...]»

sexta-feira, 14 de maio de 2010

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Crítica - "Amor em Minúsculas"

Blog Galáxia dos Livros

«Mais uma vez foram a capa e o título que me fizeram desejar ler este livro. Como amante de gatos e de literatura romântica, não poderia deixar de achar a capa e a sinopse deste livro atractivas.


Curiosamente, a história não fala da história de um gato, mas sim, como a entrada inesperada de um gato provoca uma mudança total na vida de uma pessoa que sempre foi solitária. É com o gato Mishima que Samuel, o protagonista da história, vai começar a dar significado ao amor de pequenas coisas, aquelas que, à partida, parecem tão insignificantes. É assim que o título faz jus à história: Amor em Minúsculas, um amor de pequenas e importantes coisas. Esta obra foi, de facto, algo que me surpreendeu, uma vez que saiu completamente ao lado da ideia que eu tinha conjecturado pela capa e sinopse. Mas isso, não foi razão para desilusão, muito pelo contrário. É daquelas obras que nos fazem sentir um pouco mais ricos já que ela própria se envolve de muita cultura, não só na área da literatura, mas da história, da música, do amor, da simplicidade e riqueza da vida.
Foi um romance muito diferente de todos os que li até agora, mas é daqueles que recomendo a quem gosta de uma boa leitura. Aprovadíssimo!
Termino esta opinião com uma linda frase, de entre as muitas que o livro nos traz:
"(...)Não importa o que somos, mas o que fazemos com o que somos." (Francesc Miralles, 2009, pp.33)»
.

terça-feira, 11 de maio de 2010

O beijo dos Elfos começa a derreter corações esta sexta-feira!

.
É já na próxima sexta-feira, dia 14, que "O Beijo dos Elfos - Wings", de Aprilynne Pike, chega aos escaparates portugueses e como não podia deixar de ser iremos disponibilizar aqui um pequeno excerto para aguçar o apetite por mais. Mantenha-se atento e não perca também no dia 14, a estreia exclusiva do booktrailer!




quarta-feira, 5 de maio de 2010

Excerto - "Quem Me Dera Que Estivesses Aqui", Francesc Miralles

Nas livrarias a 14 de Maio

«Contigo no iglu


Paris ficara já longe. Ainda que tivesse descolado há apenas uns minutos de Charles de Gaulle, as nuvens que envolviam o Airbus 319 faziam-me sentir numa espécie de limbo: num lugar etéreo onde só têm cabimento as recordações e os sonhos.
Depois de tudo o que sucedeu durante aquelas últimas semanas, era estranho para mim regressar a casa. Temia encontrar-me como Charlton Heston no final de O Planeta dos Macacos, quando este descobre a Estátua da Liberdade semienterrada na areia. O último vestígio de um passado ao qual já não poderá regressar.
Porque, será possível voltar a ser quem eras quando tudo se desmoronou ao teu redor?
Ao fechar os olhos pareceu-me que as nuvens penetravam no meu interior, diluindo os últimos vestígios de consciência. Antes de me deixar vencer pelo sono, vislumbrei uma cena há muito esquecida: a minha primeira aventura no difícil ofício de amar. Resisti à sonolência, disposto a ser espectador da minha própria love story. Dizem que o passado explica o presente e determina o futuro. Comecei a visionar o filme das minhas catástrofes sentimentais em busca de pistas para entender o que acabara de viver.

Naquela época eu tinha quinze anos e nunca antes me tinha apaixonado. Nem sequer imaginara que algo do género me pudesse acontecer. Vivia à margem dos meus colegas, que me repudiavam por me vestir impecavelmente e ter os trabalhos de casa em dia. Quando passava junto de um grupo de rapazes que partilhavam tabaco e confidências sexuais – a maioria inventadas –, as vozes calavam-se até que eu passasse ao largo, ou então recebia uma chuva de insultos.
As raparigas eram para mim um mundo distante e perigoso. Repugnavam-me os seus lábios pintados, o seu desagradável costume de mascar pastilha elástica e os perfumes de imitação que se entremisturavam na sala de aula de maneira ofensiva. Também não entendia a metamorfose que haviam experimentado aqueles corpos: de um ano para o outro, pareciam ter-se dotado de poderosas curvas com as quais desafiavam todo o sector masculino.
Tinha curiosidade, isso sim. Intrigava-me saber se aquelas formas redondas eram reais ou apenas produto de uns algodõezinhos habilmente colocados para atiçar a imaginação.
Numa das poucas festas para a qual fui convidado naquela época, uma tal Ruth – a vampe da turma – pediu-me ao ouvido que saísse ao jardim discretamente, que ela se escapuliria do grupo para ir ter comigo.
Fiz o que me pedia. Era uma noite excepcionalmente fria para o clima temperado de Barcelona, e o meu casaco estava pendurado no vestíbulo daquele rés-do-chão. Não o podia ir buscar sem chamar a atenção dos outros, que dançavam, bebiam e fumavam como se aquela fosse a última noite do mundo. Portanto, aguardei gelado que ela aparecesse. Não fazia ideia do que faria então – nem sequer sabia como se punha a língua num beijo –, só estava consciente de que ia acontecer algo importante.
O que sucedeu foi que a voluptuosa Ruth nunca apareceu. Depois de um quarto de hora a tremer no jardim, agasalhado apenas com uma fina camisola de lã, regressei ao salão sem entender nada.
Ali me esperavam, em impaciente silêncio, todos os convidados da festa, capitaneados pela que me tinha marcado o encontro no jardim. Receberam-me com uma gargalhada humilhante que jamais esqueceria.

Depois daquela noite não quis saber mais de raparigas. Evitava-as deliberadamente e sentia-me forte por isso. Até que, um ano depois, apareceu uma para a qual eu não estava vacinado.
Encontrava-me na biblioteca da escola, a preparar-me para os testes do primeiro trimestre, quando o estalido de uma grossa pasta sobre a madeira me sobressaltou. Embora a longa mesa estivesse vazia, assim como a maior parte do recinto, uma das novas raparigas daquele curso tinha decidido sentar-se ao meu lado.
Olhei-a de soslaio enquanto fingia rever uns apontamentos de língua espanhola. Naquela altura não sabia que um homem nunca escolhe, é escolhido, e Sonia – aquele era o seu nome – tinha-me escolhido para passar por uma dura prova.
Até então não tinha reparado nela. Era mais para o gordinha, com olhos pequenos e brilhantes, e um penteado curto e irregular que lhe dava um toque extravagante.
– Que porcaria de lista – exclamou ao ver-me sublinhar com o lápis uma coluna de adjectivos.
Intimidado, cravei o meu olhar no papel sem saber o que dizer.
Mas Sonia voltou à carga:
– Há palavras que deviam ser nomeadas, não achas?
– Nomeadas? O que é que queres dizer com isso?
– Expulsas do dicionário, como os palermas que vão aos concursos de televisão.
Gostei daquilo. Mais do que o comentário em si, fascinava-me a segurança com que ela se exprimia.
– E que palavras expulsarias? – atrevi-me a perguntar.
– Fez-se um questionário entre os alunos da secundária, e as candidatas a irem para o galheiro são palavrões como adail, crisol ou incomensurável. E também palavras do tempo da Maria cachucha como parapeito ou argênteo.
– Aponta regressão na lista – acrescentei, divertido, enquanto riscava a palavra dos meus próprios apontamentos –, assim como fagocitar e ajuizamento.
– Sim, elas que vão para a merda – respondeu Sonia levando um cigarro à boca. – Acompanhas-me lá fora a fumar?
Assim começou o primeiro romance verdadeiramente catastrófico da minha vida. Fascinado com a ideia de que uma rapariga com personalidade, ainda que não entrasse no cânon estético geral, tivesse reparado num pobre diabo como eu, a minha imaginação não tardou a pô-la num pedestal. Justamente nessa altura ela cansou-se de mim.
[...]»
.

Crítica de imprensa

«Pura Diversão


O mais célebre espião de todos os tempos surge numa série de histórias curtas em edição exclusiva, marcando o relançamento da colecção James Bond.

James Bond, o mais célebre espião de sempre – conhecido como agente secreto 007 –, tornou-se numa figura icónica, um património do imaginário da cultura popular do século XX. Criado pelo aristocrata inglês Ian Fleming, ele próprio familiarizado com as contingências do serviço de espionagem britânico, nasceu no universo literário, mas rapidamente saltou para a sétima arte, onde foi encarnado por diversos actores, numa passagem de testemunho geracional, extensível à actualidade.

Fleming criou um paradigma blasé do espião. É esse espírito que os livros de Fleming transmitem, mas sem algum do folclore do avatar cinematográfico da figura, comportando maior densidade psicológica na interacção das personagens, apoiados numa escrita fluida e de impecável solidez estilística. Quantum of Solace, que a Contraponto lança com uma deliciosa capa vintage, marca o arranque do relançamento da colecção James Bond e comprova estas premissas. Trata-se de uma edição especial contendo nove histórias curtas protagonizadas pelo agente 007. No terceiro conto, que a edição portuguesa intitulou Refrigério Essencial (no original precisamente Quantum of Solace), Bond permanece, ao contrário do habitual, como espectador de uma história sobre os dramas humanos, escondidos atrás de uma fachada de aparente normalidade. Nesta história, a todos os títulos invulgar e ilustrativa do talento de Fleming, há uma linha temática de reflexão: a de que as relações entre duas pessoas sobrevivem a tudo menos ao insulto ou ao ataque ao “instinto de autopreservação”.

Cinco destes contos foram originalmente publicados em Abril de 1960, sob o título de For Your Eyes Only (que baptizaria o filme homónimo, assim como Quantum of Solace emprestaria o nome a outra película), marcando um ponto de viragem para Ian Fleming, que antes da publicação destas histórias curtas já tinha escrito romances extensos protagonizados por James Bond.

Esta edição portuguesa acrescenta outros contos ao elenco, reunindo-os sob um título genérico, diferente do original de 1960. Um livro de pura diversão, misturada com argúcia q.b. provando que estas histórias são como o vinho do Porto, as eventuais rugas da idade assentam-lhes na perfeição e acentuam-lhes o bouquet

Paula Macedo, Focus, 14 de Abril de 2010

.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Novidades para Maio

Lançamento: 14 de Maio

Do autor de Amor em Minúsculas


Quem Me Dera Que Estivesses Aqui
Francesc Miralles

No dia em que faz 30 anos, Daniel, um arquitecto de sucesso em Barcelona, é abandonado repentinamente pela sua noiva. Em pleno naufrágio emocional, tenta distrair-se a ouvir um CD que lhe foi oferecido por uma das suas poucas amigas íntimas. O álbum é de uma jovem cantora quase desconhecida chamada Eva Winter – e, para surpresa de Daniel, cada canção parece descrever, ao pormenor, a sua vida e as suas emoções.
Intrigado, Daniel toma uma decisão: sem avisar ninguém, parte para Paris em busca desta misteriosa cantora que parece conhecê-lo melhor do que qualquer outra pessoa. À sua espera, encontra as mais insólitas surpresas… e até, quem sabe, o amor da sua vida.

Sobre o autor:
Filho de uma modista e de um administrativo muito dado às artes e às letras, Francesc Miralles nasceu em Barcelona em 1968. Estudou Jornalismo na Universidade Autónoma de Barcelona, mas abandonou o curso passados quatro meses para trabalhar como empregado no Les Puces del Barri Gòtic, uma taberna do bairro gótico onde aprendeu a tocar piano. Regressou à universidade um ano depois, onde estudou Filologia Inglesa. Complementava o estudo com esporádicas aulas de línguas mas, após anos de tédio e inércia, voltou a abandonar a universidade.
Viciado em viagens desde jovem, decidiu deixar tudo e vaguear pelo mundo. Uma série de coincidências fizeram com que estivesse a viver na Croácia e na Eslovénia durante a guerra dos Balcãs, uma experiência que viria a relatar anos depois no livro Café Balcanic. Ao regressar a Barcelona, retomou a vida académica, dedicando-se desta vez ao estudo de Filologia Alemã. Não só completou a licenciatura como ainda fez um mestrado em Edição de Livros. Ingressou no mundo editorial primeiro como tradutor e, mais tarde, como editor. Teve uma preenchida carreira editorial de três meses de duração, que serviu de inspiração ao seu primeiro romance em castelhano, Barcelona Blues, e que o levou a tomar uma importante decisão: não voltar a trabalhar numa empresa. Desde então, tem-se dedicado exclusivamente à escrita, embora também exerça funções de assessor literário e consultor em várias editoras. É autor de livros para jovens, muitos dos quais premiados; de romances e thrillers que se revelaram best-sellers internacionais; e de livros de não-ficção de grande sucesso.

http://www.franscescmiralles.com/

Título original: Ojalá Estuvieras Aquí

ISBN: 978-989-666-009-3 ; 216 pág.; € 16,50



Lançamento: 14 de Maio

Brevemente no cinema numa animação produzida por Luc Besson


A Mecânica do Coração
Mathias Malzieu

Edimburgo, 1874. Jack nasce no dia mais frio de sempre, com o coração… congelado. A Dr.ª Madeleine, a parteira (segundo alguns, uma bruxa) que o trouxe ao mundo, consegue salvar-lhe a vida instalando um mecanismo – um relógio de madeira – no seu peito, para ajudar o coração a funcionar. A prótese resulta e Jack sobrevive, mas com uma contrapartida: terá sempre de se proteger das sobrecargas emocionais. Nada de raiva e, sobretudo, nada de amor. A Dr.ª Madeleine, que o adopta e vela pelo seu mecanismo, avisa: «O amor é perigoso para o teu coraçãozinho.»

Mas não há mecânica capaz de fazer frente à vida e, um dia, uma pequena cantora de rua arrebata o coração – o mecânico e o verdadeiro – de Jack. Disposto a tudo para a conquistar, Jack parte numa peregrinação sentimental até à Andaluzia, a terra natal da sua amada, onde encontrará as delícias do amor… e a sua crueldade.

Um conto de fadas para adultos, ao estilo de Tim Burton ou Lewis Carrol.

Sobre o autor:
Mathias Malzieu é vocalista de uma das mais conhecidas bandas de rock francesas, Dionysos. É autor dos contos 38 Mini Westerns e do romance Maintenant qu’Il Fait Tout le Temps Nuit Sur Toi, que conheceu um tremendo sucesso junto do público e da crítica. A Mecânica do Coração é também o nome do mais recente álbum da banda de Malzieu, que foi Disco de Ouro em 2008.

Elogios:

«Malzieu tem um poder de evocação que faz lembrar Lewis Carrol.»
Metro

«Um estilo contido, agridoce e por vezes surreal, na tradição de mestres como Roald Dahl ou Tim Burton.»
Les Inrockuptibles

«Arquitecto de um mundo, viajante do imaginário, Malzieu é sem dúvida um poeta.»
20 Minutes

«Com este conto, de matiz clássico, Malzieu confirma o seu talento de narrador.»
Le Fígaro Magazine

«Fica-se com vontade de comprar dezenas de exemplares deste livro, para oferecer a todos os amigos.»
Le Soir

Título original: La Mécanique du Coeur

ISBN: 978-989-666-073-4; 144 pág.; € 16,00



Lançamento: 14 de Maio

«Um romance de estreia maravilhoso.» Stephenie Meyer


N.º 1 da lista de best-sellers do New York Times

O Beijo dos Elfos
Aprilynne Pike
Laurel é uma jovem de quinze anos diferente – frágil, vegan e amante da natureza – que se muda com os pais para outra cidade. Integrar-se na nova escola e fazer amigos são questões complicadas para uma rapariga tímida como ela, mas o atraente David ajuda-a a ambientar-se.
É então que acontece algo inexplicável que aterroriza Laurel: diante do espelho, vê surgir sobre os seus ombros umas formas longas branco-azuladas, de uma beleza quase indescritível, como pétalas a pairar no ar junto à sua cabeça – semelhantes a asas.
Para perceber o sucedido, a jovem regressa à sua cidade natal, onde conhecera Tamani, um magnetizante rapaz de olhar cor de esmeralda. Ele parece conhecê-la desde sempre e vai revelar-lhe uma verdade aterradora.
A partir desse momento, Laurel ver-se-á suspensa entre dois mundos e dividida entre dois rapazes igualmente fascinantes, que a atraem em direcções opostas...

Sobre a autora:
Aprilynne Pike, dotada de uma imaginação fértil, escreve histórias de fadas desde criança. Aos vinte anos fez uma especialização em Escrita Criativa na Faculdade Lewis-Clark, em Lewiston, Idaho. Recentemente, regressou ao Arizona com o marido e os três filhos para aproveitar o sol.
Com esta série de estreia a autora conquistou leitores e a crítica internacional, chegando ao primeiro lugar da lista dos mais vendidos do New York Times.

http://www.aprilynnepike.com/

Título original: Wings
ISBN: 978-989-666-051-2 ; 256 pág.; € 16,50



Lançamento: 14 de Maio

Vingança
Livro II da série Fever
Karen Marie Moning

«Quando a minha irmã foi encontrada morta num beco cheio de lixo em Dublin, vim até cá à procura de respostas. Agora, tudo o que quero é vingança. E depois de tudo o que descobri sobre mim própria, sei que tenho o poder de a conseguir…»


A vida de MacKayla Lane sofreu uma transformação radical quando aterrou na costa da Irlanda e se viu mergulhada num mundo de feitiçaria mortífera e de segredos antigos.
Na sua luta para continuar viva, Mac tem de encontrar o Sinsar Dubh — o poderoso Livro Negro, com um milhão de anos, que contém a chave para dominar quer o mundo dos Fae quer o mundo do Homem. Perseguida por assassinos Fae, rodeada por figuras misteriosas nas quais sabe que não pode confiar, Mac dá por si dividida entre dois homens mortíferos e irresistíveis: V’lane, o Fae insaciável que consegue transformar a excitação sensual numa obsessão para qualquer mulher, e o sempre inescrutável Jericho Barrons, um homem tão atraente quanto misterioso.

Sobre a autora:
Karen Marie Mooning formou-se em Sociedade e Lei na Universidade Purdue. Os seus romances estiveram nas listas dos mais vendidos do New York Times, USA Today e Publishers Weekly, e conquistaram vários prémios, incluindo o prestigiado Prémio RITA (Romance Writers of America).

http://www.karenmoning.com/

http://feverportugal.blogs.sapo.pt/  

Título original: Bloodfever
ISBN: 978-989-666-019-2 ; 280 pág.; € 17,00



Lançamento: 21 de Maio

«Excelente, misterioso e delicioso.» Publishers Weekly


Beijo Gelado
Livro II da série Academia de Vampiros
Richelle Mead

Rose Hathaway não está a atravessar uma boa fase: o seu deslumbrante mentor Dimitri parece gostar de outra pessoa e em contrapartida o seu amigo Mason tem um fascínio enorme por ela. Para piorar a situação, Rose não consegue quebrar a ligação mental com a sua melhor amiga, Lissa, mesmo quando esta está com o namorado, Christian.
Entretanto, perante a iminência de um ataque Strigoi, a Academia de São Vladimir decide tornar a viagem anual de esqui obrigatória a todos os alunos e juntar os guardiães, inclusive a lendária Janine Hathaway – a ausente mãe de Rose.
Iludidos pela falsa segurança da paisagem cintilante e elegante do Idaho e na ânsia de vingar as vítimas dos últimos ataques dos Strigoi, três estudantes resolvem fugir para tentar encontrar e exterminar sozinhos um perigoso grupo de assassinos. Rose vê-se então obrigada a associar-se a Christian para os salvar, só que desta vez a jovem irá sujeitar-se a perigos que nunca imaginou ter de enfrentar.

Lissa Dragomir é uma princesa Moroi – um vampiro mortal que tem um laço inquebrável com a magia da Terra –, e deve por isso ser protegida dos Strigoi – os vampiros mais ferozes e mais perigosos, aqueles que nunca morrem.
Rose Hathaway, a sua melhor amiga, é uma Dhampir – nas suas veias corre uma poderosa mistura de sangue humano e de vampiro. Rose tem como missão proteger Lissa dos Strigoi, que tentam por todos os meios tornar a princesa numa vampira como eles.

http://academiadevampiros.blogs.sapo.pt/

Sobre a autora:
Richelle Mead é uma leitora voraz, fascinada por mitologia e folclore.
É uma autora reconhecida tanto pelo público como pela crítica, na área da fantasia urbana. Esta sua nova série, «Vampire Academy», encontra-se já publicada em todo o mundo, tendo alcançado os lugares cimeiros das listas de best-sellers internacionais.

http://www.richellemead.com/ 

Título original: Frostbite
ISBN: 978-989-666-042-0 ; 356 pág.; € 16,95

.

Uma explosão de novidades!

Este mês a Contraponto está indomável! Depois de festejar um ano de existência e o nosso primeiro grande best-sellerDesculpa, mas Vou Chamar-te Amor, de Federico Moccia –, pretendemos ir ainda mais além. Os dias de chuva começam a ficar para trás e a Primavera brinda-nos com raios de sol repletos de novos títulos irresistíveis.

A pensar em todos aqueles que anseiam pela Feira do Livro para comprar uma extensa lista de livros nesta ocasião, nós damos uma ajudinha, apresentando-lhe novidades de deixar água na boca.
Para começar, relançamos uma obra extraordinária, com uma capa que não deixará ninguém indiferente: A Mecânica do Coração, de Mathias Malzieu.
Editamos também Quem Me Dera Que Estivesses Aqui, de Franscesc Miralles, um romance mágico e comovente, com ecos de Alice no País das Maravilhas e de O Fabuloso Destino de Amélie, que nos recorda como basta uma minúscula dose de amor para dar cor e música à vida…
Para os miúdos e graúdos apresentamos um livro ao qual todos os amantes do sobrenatural e de Stephenie Meyer não conseguirão resistir: O Beijo dos Elfos – Wings, da estreante e já best-seller do New York Times, Aprilynne Pike.
E para todos os fãs de Karen Marie Moning, lançamos a continuação da série Fever, que começou com Anoitecer, e prossegue com Vingança.
Por último, mas não menos importante, a Contraponto edita o segundo livro da série Academia de Vampiros, com o título Beijo Gelado.
Acompanhe-nos nesta festa de novidades e tenha um Maio em grande com a Contraponto.
.