quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Crítica de Leitor: «Frankenstein - Morto e Vivo»

«CONTÉM SPOILERS


“ – Odeio-os, odeio-os, tão moles e frágeis, tão rápidos a temer e suplicar, tão arrogantes na certeza de terem almas, mas tão cobardes para criaturas que alegam haver um deus que as ama, as ama! Como se houvesse nelas algo digno de amor… copinhos de leite trémulos e imprestáveis, fanfarrões frouxos a reclamarem um mundo pelo qual nem lutam. Estou ansiosa por ver desfiladeiros arrasados e cheios com os corpos deles e oceanos vermelhos do sangue deles, ansiosa por cheirar cidades que tresandem aos cadáveres em decomposição, e piras deles a arderem aos milhares.”

Tão grande é o ódio da Nova Raça pela Velha como a frustração em não poderem fazer nada sem que seja dada autorização. E será esta privação, aliada às inúmeras falhas nas experiências de Frankenstein, que irão travar o confronto entre o “louco” e Deucalião, a primeira criatura.

“Em poucos dias: Harker a dar à luz a uma monstruosidade qualquer, William a arrancar os dedos à dentada, Christine confusa quanto à sua identidade, a catastrófica metamorfose celular de Werner, a aparente incorporação de todos os efetivos das Mãos da Misericórdia na coisa-Werner, a libertação de Camaleão, Erika Quatro presumivelmente regressada dos mortos, aqueles dois detetives a conseguirem escapar a Benny e Cindi Lovewell, dois assassinos soberbos…”

Frankenstein dotara todos os membros da Nova Raça com um tremendo desejo em matar os da Velha Raça, nós os humanos, no entanto, não atribuiu-lhes o livre arbítrio. E este é um dos pontos mais interessantes de toda a trilogia, a sobreposição da vontade dos membros da Nova Raça à vontade do seu criador e a sua demanda feroz pelo controlo absoluto da biologia humana. Uma sobreposição crescente desde o primeiro volume.

Seguindo o mesmo registo dos volumes anteriores, Dean Koontz mantém a narrativa povoada de inúmeras personagens tão aterradoras quanto fascinantes. O ritmo constante e provocador prende a atenção dos leitores da primeira à última página. E no fim fica o desejo por mais…

Quanto ao confronto entre Victor Frankenstein e Deucalião, teremos que aguardar pelos volumes seguintes: Lost Souls e The Dead Town.

Mas Frankenstein é muito mais que uma obra da literatura de horror. É também uma metáfora da condição humana.»
Rui Baptista, Bela Lugosi Is Dead