quinta-feira, 25 de junho de 2009

Imprensa:

«O mundo não acaba no Castro

A tonalidade e as harmónicas da escrita de Maupin permitem-nos sonhar com os pés assentes na terra. Eduardo Pitta

O que representa contar uma vida “presa por pastilhas elásticas e arames”, ou seja, à custa de um combinado de nevirapina e lamivudina e zidovudina? É isso que faz, com fina ironia, passe o absurdo, o escritor americano Armistead Maupin (n. 1944), famoso pelas suas histórias de São Francisco – “Tales of The City”, seis volumes publicados entre 1978 e 1989, os quatro primeiros traduzidos em Portugal –, que deram origem à premiada série de televisão de Alastair Reid. Essas histórias retratam a mudança de paradigma da cidade que foi o símbolo da revolução sexual dos anos 1970, por efeito da devastação provocada a partir de 1981 pela pandemia do HIV.
Armistead Maupin é um escritor e jornalista laureado, combateu no Vietname (1967-70) como fuzileiro naval, assumiu publicamente a sua homossexualidade em 1974 e, em 2007, casou com o fotógrafo Christopher Turner. “Michael Tolliver está vivo”, o seu mais recente romance, chegou às livrarias portuguesas numa tradução irrepreensível de Duarte Sousa Tavares.
Michael Tolliver não é uma personagem nova no universo de Maupin. Quem tenha lido os livros anteriores recorda as suas divertidas incursões no National Gay Rodeo, um evento improvável, mas se há coisa de que Maupin não pode ser acusado é de previsibilidade. Um dia (daqui a 10 anos?, menos?), historiadores, antropólogos e sociólogos não vão poder ignorar que o leitmotiv da ficção anglo-americana pós-1980 foram as consequências da identificação do HIV, com toda a carga moral que os anos Reagan associaram à doença. Nesse particular, os livros de Maupin estão na primeira linha do enfoque. Porque se há uma diferença brutal entre a ficção, apesar de tudo “macia” (e alusiva), de escritores como Edmund White ou David Leavitt, e a crueza da vida como ela é, essa diferença é peremptória nos relatos desapiedados de Maupin, mais próximos dos testemunhos de Andrew Holleran ou Dennis Cooper. Como se estivéssemos a comparar António Lobo Antunes e Mário Cláudio (o exemplo tem como única utilidade dar um contraponto nacional facilmente perceptível por toda a gente). Maupin não generaliza, nem reduz a brutalidade da doença ou o “glamour” mediático de certos sectores da comunidade gay a episódios de virtuosismo narrativo, como faz, por exemplo (e de forma superlativa), Augusten Burroughs.
Logo na segunda página de “Michael Tolliver está vivo”, a propósito de um encontro fortuito num supermercado (uma das personagens não se lembra das circunstâncias em que conheceu a outra), a súbita lembrança de certo pormenor anatómico marca o tom da assertividade como, no mundo de língua inglesa, o quotidiano das pessoas comuns se transforma em literatura. Decerto não por acaso, o realismo mágico (uma forma como qualquer outra de iludir a realidade) é uma invenção latino-americana.
A crítica tem-se dividido entre os que consideram “Michael Tolliver está vivo” como sendo o 7º volume das histórias de São Francisco. Não é. Muita coisa mudou desde 1989 (a casa de Barbary Lane desapareceu), e o Michael Tolliver de agora é um homem mais velho, que reflecte na passagem do tempo. Contra todas as probabilidades, sobreviveu à doença. E o Viagra abriu-lhe novas possibilidades. “Michael Tolliver está vivo” integra o núcleo dos romances autónomos, entre eles o muito apreciado “The Night Listener” (2000), adaptado ao cinema por Patrick Stettner, com Robin Williams no protagonista. Diferença desde logo decisiva, o facto de Michael ter agora um amante 20 anos mais novo do que ele.
Por falar em amantes, um aspecto determinante deste novo livro tem a ver com o facto de o narrador falar do seu “marido”, por oposição à fórmula tradicional do “companheiro”. Opção que traduz, sem rodeios, o quadro legal dos últimos anos, em que cinco Estados norte-americanos legalizaram o casamento entre pessoas do mesmo sexo: “Sumter, entretanto, tinha ficado imediatamente fascinado pelo meu marido, espalhando os fantoches a seus pés como se fossem ofertas a um deus loiro.”
As mulheres são importantes em “Michael Tolliver está vivo”, isso não é novidade na obra do autor.
Enganam-se os que possam supor que o livro é sobre saunas e bares de engate. Afinal, São Francisco não é só o Castro. Um leitor sem preconceito pode lê-lo com o mesmo prazer (as descrições da vida de bairro, das pequenas profissões, das querelas familiares, etc.) como lê Jane Austen ou Saul Bellow. Maupin nunca doura a pílula. Mas também não vê o mundo a preto e branco. A tonalidade e as harmónicas da sua escrita permitem-nos sonhar com os pés assentes na terra.»

Eduardo Pitta, Ípsilon, Público, 19 de Junho de 2009

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Imprensa:

O Beco dos Milagres

«Primeiro vemos de cima o Egipto só por um momento. Interessa-nos a geografia, pouco mais.
Aproximamos a imagem, rápido e paramos com facilidade sobre o enorme Cairo. Depois, bastaria escrever a morada exacta no motor de busca para encontrarmos qualquer rua em segundos. Mesmo um pequeno beco, antigo e humilde. Mas a viagem no Google Maps acabaria aí.
Felizmente, temos Naguib Mahfouz. O Nobel da Literatura mais celebrado do mundo árabe dez ainda um pouco mais de zoom. Subiu o beco e contou-nos das pedras do chão e da pobreza em redor. Abriu as portas das casas, dos estabelecimentos comerciais, e apresentou-nos pessoas diversas. Aos poucos, aproximou mais e mais a lupa e as pessoas foram ficando mais bonitas, mais feias, mais ou menos pessoas.
Um beco que é um microcosmos, com vista sobre Hamida, a jovem que tem tanto de bela como de estragada, ou sobre Kirsha, o dono do café, casado e ao mesmo tempo apaixonadoo por jovens rapazes. Eles ou todos os outros habitantes do pequeno gueto. E por baixo destas vidas, uma culturua que se oferece em estado puro.
Diz-se de Mahfouz que está para o Cairo como Dickens para Londres, ou Balzac para Paris. O Beco dos Milagres não é o seu romance mais célebre, mas é um dos iniciais, e é talvez por isso um dos retratos mais naturalistas que o autor fez da sua gente. Simples, sem julgamentos morais, sem enfeites ou condenações. Apenas um beco e toda a vida que por lá desfila.»

Mafalda Castro, Time Out Lisboa, Junho 2009

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Novidades em Junho

Finalmente chegou o primeiro mês do Verão, mas será que o Verão chegou com ele? A ver vamos se os dias aquecem e nos levam, numa autêntica debandada, às praias mais próximas, como quem procura um oásis no meio do deserto. Enquanto se espraia a apanhar um pouco de Sol e a recuperar as energias, pode aproveitar para levar um bom livro consigo. A Contraponto oferece-lhe um leque de títulos de leitura imperdível. A começar pelo regresso de Elin Hilderbrand, que depois de Descalças (O Quinto Selo, 2008) volta aos escaparates com Segredos de Verão, um romance que se desenrola em torno de um Clube de Praia, onde vidas se cruzam e paixões despontam. Temos também o livro-sensação de 2009, Deus É Um Tipo Fixe, romance de estreia de Cyril Massarotto e vencedor de vários prémios. Espreite, mais em baixo, e descubra todas as novidades deste mês!




Segredos de Verão
Elin Hilderbrand

ISBN: 978-989-666-008-6
N.º de páginas: 368
Dimensões: 15 × 23
Preço c/ IVA: € 18,50


Um lugar especial, uma paixão inesperada e um Verão inesquecível…

«Um romance escaldante.» The Boston Herald

O Clube de Praia e Hotel da ilha de Nantucket – uma estância balnear privada – é um lugar onde se guardam memórias, onde despontam paixões e onde nascem relacionamentos que se fortalecem de ano para ano. Em cada época, os hóspedes, os proprietários e os empregados entrelaçam os seus destinos, criando amizades e inimizades, revelando ou ocultando os seus segredos.
Mack Petersen fugiu do passado e começou de novo num hotel que se tornou a sua vida, mas é chegada a altura de decidir o seu futuro…
Cecily Elliott, a jovem e bela filha dos proprietários, tem um amor secreto e vê-se obrigada a escolher entre aqueles que mais ama…
Love O’Donnell vem de Aspen para trabalhar no Clube de Praia, decidida a pôr em prática um plano ousado: encontrar um homem que a engravide…
Vance Robbins é um homem orgulhoso e ressentido, a quem uma arma e uma mulher oferecem, finalmente, a oportunidade de se vingar do homem que mais odeia…
Lacey Gardner, uma viúva solitária que frequenta o hotel há quarenta e cinco anos, partilha a sua experiência de vida com aqueles que a recebem e que considera já a sua família.

Sobre a autora:
Elin Hilderbrand vive em Nantucket com o marido e os três filhos pequenos. Cresceu em Collegeville, Pensilvânia, e viajou muito antes de assentar na ilha onde vive, que serve de cenário aos seus romances. Hilderbrand formou-se na Universidade John Hopkins e foi bolseira e docente no workshop de Escrita Criativa da Universidade do Iowa. As suas obras são presença constante nas listas dos livros mais vendidos do New York Times. Em Portugal encontra-se já publicado Descalças (O Quinto Selo, 2008).

Críticas de imprensa:
«Descontraído e divertido, este romance é rico em personagens e tem um enredo emocionante. Um livro que o deixará em suspense até ao final.»
Publishers Weekly

«Um romance cheio de ritmo.»
Kirkus Reviews

«Surpreendentemente tocante… uma obra de ficção que provavelmente permanecerá na sua memória muito depois de a ter terminado.»
People



Deus É Um Tipo Fixe
Cyril Massarotto

ISBN: 978-989-666-006-2
N.º de páginas: 192
Dimensões: 15 × 23
Preço c/ IVA: € 17,50

Este divertido romance de estreia conta a história de um tipo normal, simpático, com um emprego não muito exigente, mas também não muito satisfatório, sem grande sorte ao amor… ah, e com uma característica invulgar: o seu melhor amigo é Deus.
O jovem (cujo nome nunca é revelado) tem 30 anos quando conhece Deus – ou melhor, quando é chamado por Deus. O Criador não lhe pergunta nada de especial, nem tem grandes revelações metafísicas a fazer - só quer conversar, como qualquer pessoa normal.
Com o passar do tempo, tornam-se grandes amigos (apesar de Deus ter um sentido de humor um pouco… excêntrico). Através da discreta ajuda do seu melhor amigo, o jovem conhece a mulher dos seus sonhos, casa-se e tem um filho, Léo. Vive uma felicidade que nunca sonhara.
Contudo, quando perde a mulher num acidente, o homem sente-se traído pelo seu melhor amigo. Deixam de se falar durante algum tempo. Mas, como em qualquer amizade, o tempo e a saudade falam mais alto…

Sobre o autor:
Cyril Massarotto nasceu em 1975. É director de uma escola primária em Perpignan, mas também se dedica às artes. É músico e escreve canções para a sua banda, Saint-Louis, desde a adolescência. Deus É Um Tipo Fixe é o seu primeiro romance, que conheceu um grande sucesso junto da crítica e do público, tendo sido consagrado com vários prémios, de entre os quais se destacam a Selecção FNAC da Rentrée Literária 2008, o Prémio Jovem Talento Cultura 2008 e o Prémio Carrefour Primeiro Romance 2008.

«Escrito num tom muito agradável, com diálogos que não deixarão de envolver o leitor.»
L’Independant

Críticas de imprensa:
«Um romance hilariante, sensível e cheio de emoções, escrito com um estilo cheio de força e originalidade.»
Ici Paris

«Este livro não se limita a fazer-nos rir. Também nos convida a reflectir sobre a liberdade, o sofrimento e o amor, de uma forma tão profunda quanto simples.»
Elle



A Estrela da Babilónia
Barbara Wood

ISBN: 978-989-666-007-9
N.º de páginas: 352
Dimensões: 15 × 23
Preço c/ IVA: € 18,50

Numa noite de tempestade, a arqueóloga Candice Armstrong é chamada de urgência à cabeceira do seu velho professor, John Masters, que sofreu um acidente. O moribundo implora-lhe para ir a casa dele, mencionando a «Estrela da Babilónia» e uma misteriosa chave. Candice inicia então uma trepidante busca que a leva à Síria na companhia do filho do professor, Glenn Masters, um misterioso e taciturno inspector da polícia.

Entretanto, Philo Thibodeau – seguindo as instruções da seita ultra-secreta a que pertence, os Alexandrinos – parte no seu encalço, e Candice e Glenn vêem-se obrigados a arriscar as suas vidas, numa corrida contra o tempo através do deserto.

Sobre a autora:
Barbara Wood nasceu em Inglaterra e emigrou, ainda nova, para os EUA com a família. É autora de vinte e um romances, todos eles best-sellers internacionais. Nos seus livros, que se encontram traduzidos em mais de trinta línguas, abundam as paisagens exóticas imbuídas de muita paixão e aventura.

Críticas de imprensa:
«Wood cria personagens autênticas com histórias fascinantes.»
Library Journal

«Wood trata os povos antigos com a mesma delicadeza de um arqueólogo que une fragmentos de ossos para descobrir culturas sucessivas... Um bom remédio para os sedentos de misticismo.»
Kirkus Reviews


A Dama de Caxemira
Francisco González Ledesma

ISBN: 978-989-666-030-7
N.º de páginas: 200
Dimensões: 16 × 24
Preço c/ IVA: € 17,50

Velho, cínico e assombrado pela memória das mulheres que não soube amar, preso entre o fascínio pelos marginais que deveria perseguir e o desprezo dos seus superiores, que sonham vê-lo reformado, o inspector Méndez vagueia por uma Barcelona cuja modernidade o acossa, saudoso da cidade gloriosa de outrora. As décadas que passou ao serviço da polícia não deixam que Méndez confunda verdade com justiça, e este velho cavalo de guerra da lei não se deixa iludir facilmente.
Quando se depara com um bizarro crime que envolve um cadáver e uma cadeira de rodas, Méndez mergulha na aventura mais vertiginosa e sentimental da sua vida – uma história de solidões, frustrações, nostalgias e inesperadas ternuras. Uma mulher presa a um passado longínquo e perdido, um homem casado apaixonado por um antigo amante, um amor inesperadamente platónico e um conjunto de vidas tragicamente interligadas levam Méndez a descobrir que se pode morrer por sonhar demais e que o homicídio pode ser o derradeiro acto de ternura.
A Dama de Caxemira convida o leitor a deambular pelo labirinto de ruas estreitas e horizontes vastos que é a cidade antiga de Barcelona, e não deixará de o marcar pela sua originalidade e irreverência.

Sobre o autor:
Francisco González Ledesma (Barcelona, 1972) iniciou-se na escrita elaborando guiões de BD e romances western que entregava ao ritmo de um por semana e publicava sob o pseudónimo de Silver Kane. Com apenas vinte e um anos de idade foi galardoado com o Prémio Internacional de Novela pelo seu romance Sombras viejas. Somerset Maugham e Walter Starkie faziam parte do júri que lhe atribuiu este prémio. Contudo, a censura franquista proibiu a sua publicação. Dedicou-se à advocacia (da qual se veio a afastar por motivos políticos) e ao jornalismo, primeiro no Correo Catalán e mais tarde no La Vanguardia, onde trabalhou durante vinte e cinco anos e chegou a ocupar o posto de redactor-chefe. Os seus romances Los napoleones e Las calles de nuestros padres foram igualmente censurados e só após a transição para a Democracia chegaram à publicação. Em 1983, Expediente Barcelona foi galardoado com o prémio Ciutat de València e no ano seguinte Crónica sentimental en rojo recebeu o conceituado prémio Planeta, o que lhe proporcionou uma consagração notável. A sua obra foi ainda distinguida com o prémio Mystère para o melhor romance estrangeiro publicado em França e recentemente o Premio Internacional de Novela Negra RBA pelo romance Uma Novela de Bairro (O Quinto Selo, 2008).