terça-feira, 15 de junho de 2010

Crítica "Se Houver Um Paraíso"

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«Thriller psicológico intenso e poderoso

De 1982 até 2000, um antigo, e mítico, forte dos cruzados chamado Beaufort, localizado no monte mais alto do Líbano, constituiu a linha da frente do Exército de Defesa de Israel, conhecido pelo acrónimo hebraico "Tzahal", contra a guerrilha radical xiita do Hezbollah. A qual nunca deu descanso aos soldados israelitas ali destacados, promovendo bombardeamentos diários com morteiros e tentativas de assalto esporádicas mas assertivas.
O livro de Ron Leshem retrata com uma plasticidade etnográfica que não se resume à linguagem de caserna, o quotidiano da última companhia chamada a ocupar o forte, entregue ao comando de Erez Libreti. E será pelas inquietações, interrogações, aflições e raras alegrias daquele jovem oficial, demasiado feroz e voluntarioso para o gosto das altas patentas, mas de bravura inquestionável e respeitado pelos adolescentes fardados entregues ao seu comando, que Leshem introduz o debate em torno de aspectos estruturantes de uma sociedade que vive, literalmente, em armas a todo o tempo.
Narrado exclusivamente pela óptica de Libreti que, viciado pela adrenalina que a guerra induz, abdica, embora sofrendo, da relação com a mulher que sempre julgou indigno de amar, o leitor assiste ao terçar de argumentos entre ortodoxos e laicos, pacifistas e belicistas, covardes e estóicos. Até à derradeira retirada, sob fogo intenso, de um punhado de meninos que se fizeram homens, entretanto, num baptismo de fogo. E do sangue dos camaradas ali tombados na fuga desvairada. Intenso e poderoso, mais do que um livro de guerra, "Se houver um paraíso" será antes de um thriller psicológico muito recomendável.»

in Jornal de Notícias, Junho de 2010
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1 comentário:

Clube dos Livros disse...

Ainda ando com este livro debaixo de olho, para mais tarde comprar!

:)