quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Imprensa: «O Lar da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares»

«O livro perfeito para o Halloween começa com fotos encontradas em feiras, erros nos rolos fotográficos e um orfanato no País de Gales. O escritor Ransom Riggs trocou as biografias pelos romances arrepiantes. O segundo está a caminho e o primeiro até vai ser adaptado ao cinema por Tim Burton

O escritor francês Honoré de Balzac odiava fotografias, aliás, temia-as. Para ele, essas reproduções eram pequenos assaltos à alma. No século xix usavam-se os daguerreótipos, um processo fotográfico sem um negativo e, a cada imagem que saía, Balzac acreditava que desaparecia com ela uma camada da alma. Se o processo se repetisse várias vezes, o resultado seria horrível. Como se isto não bastasse, a cada erro de sobreposição, excesso de luz ou falta dela, começavam a emergir nas fotografias familiares espectros de outras pessoas, vestígios de cães ou de garrafas. Numa época em que o espiritismo era a corrente new age do momento, as fotografias ganharam um novo significado. De certeza que já terá feito a experiência de observar um retrato a preto-e-branco do bisavô ou do trisavô que parece segui--lo por toda a sala. Agora imagine transformar isso num hobby. E que esse hobby acaba com um contrato para ver a sua história – “O Lar da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares” – adaptada ao cinema por Tim Burton. Mas comecemos pelo início.
Todos os domingos, o americano Ransom Riggs, de 33 anos, perdia horas a percorrer caixas de plástico repletas de fotografias antigas nas feiras de rua. Rasgadas, desfocadas, com dedicatórias, sobre- posições de imagens ou mesmo com montagens grosseiras. Ransom foi acumulando tantas caixas que o hobby se transformou em obsessão. A seguir os vendedores começaram a guardar-lhe as mais peculiares: uma criança dos anos 20 que parece levitar a uns centímetros do chão com uma cara assustadora, uma rapariga presa dentro de uma garrafa, outra que descasca batatas e escreve no rodapé da fotografia – “A descascar batatas e a pensar em ti. Volta depressa, com amor, a tua batata”. Há de tudo. Até um homem deitado num sofá com uma arma na mão e olhos reluzentes. Agora o escritor já nem visita as feiras porque a colecção é tão grande que só compra fotos novas quando certos vendedores lhe telefonam.
A maioria das pessoas fugiria dessas imagens, ou se resistisse a esse primeiro impulso provavelmente ia tentar investigar quem são aquelas caras. Ransom Riggs teve outra ideia: criou um romance sobre uma ilha misteriosa, um orfanato abandonado e crianças com poderes especiais, como flutuar ou começar incêndios. “Não tinha a certeza do que fazer com a minha colecção. Levei ao meu editor as fotografias e foi ele que sugeriu que criasse uma narrativa à volta delas. Nunca tinha escrito um romance, acho que se ele não me tivesse aconselhado não teria coragem”, diz ao i Ransom, que antes tinha lançado “13 Photographs that Changed the World” e “Sherlock Holmes Handbook”. As fotografias não podiam conduzir a um caminho que não um romance arrepiante. Acompanhamos Jacob, de 16 anos, que depois de uma tragédia familiar acaba no País de Gales onde encontra as ruínas do lar da Sr.a Peregrine. As estranhas crianças foram fechadas naquele orfanato porque eram perigosas. E paira no ar a hipótese de que ainda estejam vivas. Criancinhas com poderes, todos sabemos, são das coisas mais assustadoras que pode haver.
A fotografia que inspirou Ransom é a de uma mulher de mãos dadas com um rapaz a andar em direcção a um túnel de luz – “é a que resume a história para mim”. Quanto à mais assustadora, o autor confessa ao i: “É difícil escolher, mas fico sempre arrepiado ao olhar para uma que mostra dois rapazes mascarados, de cara coberta, que estão a dar de comer um ao outro o que parece ser uma serpentina.”
Para escolher as imagens que vemos no livro, Ransom pesquisou centenas de imagens, todas de desconhecidos. Mas o interesse pela fotografia surgiu quando era miúdo. Aliás, mais ou menos na mesma altura em que pensou ser agricultor – cresceu numa quinta na Florida. Entretanto esse sonho desapareceu mas a fotografia manteve-se desde o Natal em que recebeu uma 35 mm.
Sem esse hobby, Ransom Riggs, que estudou Literatura Inglesa no Kenyon College, não teria um bestseller do “New York Times” a chegar agora a Portugal, naquela que é uma bela proposta para o último Halloween antes de um feriado que teremos (em 2013, 1 de Novembro será dia útil). Mas o autor defende que o livro é muito mais que uma série de histórias aterradoras. “Na verdade nunca gostei muito do Halloween. Nunca gostei daquela coisa de nos mascararmos. Acho que o livro é mais sobre a demanda deste rapaz, os aspectos assustadores marcam o tom da história mas não são o principal. Não é um livro de terror, é uma aventura.”
Quanto a novidades, o segundo volume já está a ser escrito e “O Lar da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares” será adaptado por Tim Burton. “Tenho óptimos agentes. Tudo o que sei é que o livro chegou às mãos certas e as pessoas gostaram. Mas ainda não há datas.”»
Vanda Marques, i Online

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá.
Gostaria de saber se já há alguma data para o lançamento do 5 livro da saga Vampire Academy, nomeadamente Spirit Bound?
Obrigada
ass: Andy

O Sétimo Elemento disse...

Um livro fabuloso! Do princípio até ao fim ficamos agarrados a todo um conjunto de acontecimentos.