segunda-feira, 18 de abril de 2011

Porque nunca é demais falar de um bom livro!

«Que ricos subúrbios

Quem costuma acompanhar o mundo das artes e ainda não fixou este nome, anda distraído. Shaun Tan, contador de histórias, ilustrador, vencedor de um Óscar da Academia. O seu mais recente livro foi agora editado em Portugal


O senhor de que aqui se fala passou a última noite de Óscares, especialmente atento ao que se passava no palco do Teatro Kodak, em Hollywood. "The Lost Thing", o mais recente filme de animação que assinou, estava nomeado para uma estatueta e era apontado como um dos favoritos entre uma concorrência de peso: "Day & Night", de Teddy Newton, "The Gruffalo", de Jacob Schuh e Max Lang, "Let's Pollute", de Geefoee Boedoe, e "Madagascar, carnet du voiage", de Bastian Dubois. Na hora de decidir, o Óscar foi para "The Lost Thing" e a reacção de Shaun Tan ficou gravada em http://www.shauntan.net/, a sua página on-line. "Yarooop!", expressão para classificar aquele que baptizou como um dos momentos mais surreais da sua vida, quando saiu da plateia para receber o prémio da academia norte-americana de cinema das mãos de Justin Timberlake e de Mila Kunis. É este senhor oscarizado que agora chega a Portugal com a chancela da Contraponto com o seu mais recente livro, "Contos dos Subúrbios", quinze histórias que se podem passar nos arredores de qualquer cidade do mundo ocidental, contadas através de imagens.
É mais um objecto de puro prazer criado por este australiano, nascido em Perth, no Oeste da Austrália, em 1974 e que se formou em Belas Artes e Literatura Inglesa depois de ter começado a desenhar ficção científica e ilustrar histórias de terror para revistas de pequena tiragem. O talento e a ambição de Shaun rapidamente o fizeram evoluir e captaram a atenção dos leitores australianos. Ele assumia-se como autor de texto e imagens, um contador de histórias actuais, do quotidiano, capaz de manobrar com a mesma mestria e inovação o desenho e as palavras. É caso deste "Contos dos Subúrbios" no qual Tan se serve de vários estilos, desde a gravura japonesa ao género desenvolvido pelo mais surrealista dos pintores para falar de histórias que se passam em cenários mais ou menos replicados: casas que pouco diferem umas das outras, envoltas por jardins mais ou menos cuidados, no qual se encontra um ou dois carros, um casal, crianças, animais de estimação e electrodomésticos, mobílias e sebes a demarcar territórios anódinos. Pode ser na Austrália, pode ser na América, pode ser nos arredores de Londres. E percebe-se de imediato a sedução dos cineastas pela adaptação do universo criativo de Shaun Tan.
Actualmente a viver em Melbourne vive exclusivamente do que escreve e desenha. Ele chama-lhes "picture books". Fórmula abrangente para dizer que, mais do que as palavras, a matéria ali são as imagens. Encantatórias, surreais, inquietantes. Imagens para retratar realidades quase sempre sociais, políticas, coloridas, a preto e branco. Juntam-se a outras, uma mão cheia de livros publicados, um pouco por todo o mundo. Premiados, quase todos. Com a tal economia de palavras contidas em frases afiadas, curtas, traduzidas do inglês para japonês, chinês, norueguês, sueco, castelhano, francês, alemão... É com umas e outras, as imagens e as palavras que Shaun Tan passa a maior parte do tempo, como ele conta no site onde coloca uma parte substantiva do seu trabalho ao dispor de quem o quiser descobrir. O suficiente para encantar e ficar à espera de mais deste homem que aprendeu a afirmar-se através do desenho. Ele, sempre o mais baixo de qualquer turma por onde passou. Foi através das imagens e de uma invulgar técnica narrativa que se fantasiou de grande e pequeno e começou a uma carreira que haveria de sair das revistas de bairro para algo mais universal e inclassificável, convocando para si várias artes.»
Isabel Lucas, Diário Económico, 15 de Abril de 2011

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