quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Conto vencedor do passatempo "Conte-nos Uma História"

Ghostboy - Espírito Inquieto
Célia Cristina Amador


Um grito rompeu o véu da noite. Paula acordou. Aquele grito… teria sido um pesadelo? Parecia tão real! Apercebeu-se de que adormecera à espera de Luís. Sentiu um arrepio percorrer-lhe o corpo. Luís nunca se atrasava! Tentou ligar-lhe mas o telemóvel não dava sinal. Tinham passado várias horas e nada… nem sinal dele. Onde estaria Luís?!!
Em pânico, Paula sentou-se no degrau à entrada de casa. Foi aí que viu um objecto intrigante. Junto ao tapete, estava uma caixinha branca com um laço vermelho e um cartão. Pensou que poderia ser uma surpresa de Luís. Correu para a caixa e leu o cartão. Este dizia apenas, em letras recortadas, “Para que nunca te esqueças”. A tremer, desapertou o laço e abriu a caixa. O seu grito, longo e intenso, ecoou naquela noite silenciosa. Dentro da caixa estava uma foto sua com Luís, a mancha de sangue mal deixava ver o rosto do seu amado. Voltou a casa e correu para o telefone para pedir ajuda a Joana, a mãe de Luís.
Paula sentia algo estranho, uma presença, mas só lá estava ela! Enquanto aguardava pela mãe de Luís, deambulou pelo quarto. Por cima da mesa-de-cabeceira de Luís estava o troféu que ele tinha ganho no torneio de ténis. Paula tinha a certeza de que o deixara na prateleira dos troféus! De repente, sentiu algo no pescoço, como se alguém lhe tivesse assoprado, e ficou toda arrepiada. “Quem está aí?” – gritou. Ninguém, não estava ali ninguém. “Estou a ficar louca”, pensou. Os seus pensamentos foram interrompidos pela chegada de Joana. Consigo vinha Jorge, um amigo da Polícia. Paula relatou os acontecimentos enquanto Jorge tomava apontamentos. Quanto terminaram, o polícia pediu-lhes que aguardassem desenvolvimentos. A foto ensanguentada foi levada como prova. Joana ficou com Paula. Esta sentia-se exausta. Nada mais podia fazer e precisava de descansar… Tomou um calmante e adormeceu.
De manhã, Paula foi acordada pelo toque do telefone. Era da Polícia. Tinham encontrado o carro de Luís com um corpo no interior. Pediam-lhe que fosse reconhecê-lo. Vestiu-se, a cambalear, e seguiu com Joana para a morgue. Lá, o que viu deixou-a paralisada de horror. Ali estava ele, morto, numa maca, com uma serenidade no rosto que a deixou em estado de choque. Virou a cara e controlou o vómito. Tinha de sair dali! Sentia-se sem forças. Quem foi? Precisava de descobrir o que se passava!
Quando regressou a casa apercebeu-se de que esta estava às avessas. Ainda em estado de choque, começou a fazer a cama quando, debaixo da almofada, encontrou uma foto antiga de Luís com o João, amigos de longa data, na altura em que ambos participavam nos torneios de ténis. Como teria ido ali parar?!! Algo de estranho se passava. Estaria o assassino de Luís a tentar dizer-lhe algo? Sentia-se no meio de um pesadelo. Fechou os olhos e… de novo aquela presença estranha no quarto; desta vez empurrava-a para fora. Deu por si a caminhar sem saber para onde, guiada apenas por uma força estranha.
Apercebeu-se de que parara à porta de João. O que fazia ali? Bateu à porta, sem saber o que procurava, mas ninguém apareceu e eis que a porta se entreabriu por si mesma. Pé ante pé entrou, subiu as escadas e, no quarto, lá estava ele, o troféu, semelhante ao de Luís, que João ganhara ao ficar em 2.º lugar no último torneio em que participaram juntos. Estava coberta de sangue e de cabelos. Não podia ser! Encontrou João, embriagado. Este acabou por confessar-lhe tudo: “Eu não aguentava mais ser o segundo em tudo. Perdi os torneios; na escola, o Luís foi sempre o melhor, e contigo… também te ganhou. Perdi em tudo mas agora ganhei! Deixei-te aquele presente para que soubesses que o vosso amor acabou.”
Paula ligou de imediato à Polícia. Sentiu-se subitamente mais leve, descobrira o assassino. Mas ainda sentia aquela presença que a acompanhara até ali… De repente, algo caiu no chão, mesmo à sua frente. Era um bilhete, escrito em letras douradas com uma caligrafia que tão bem conhecia. A mensagem era simples: “Obrigada. Sabia que irias descobrir. Estarei sempre contigo. Amo-te! Do teu ghostboy, Luís”. Sentiu um beijo no rosto e um frio intenso e, de repente, tudo voltou ao normal. O frio passou, desaparecera aquela presença, que agora sabia ser de Luís, ele partira de vez. “Descansa em paz meu amor”, disse baixinho, enquanto o som das sirenes da Polícia se aproximava.

Sem comentários: