«Há uma certa ternura que transparece em muitas das histórias de Marc Levy e este livro não é excepção. Acompanhando o crescimento do protagonista e a sua eterna inocência, mudada pelos anos e pelo quebrar das ilusões, mas ainda assim, sempre presente, o autor constrói uma história terna e emotiva, contada de uma forma muito pessoal e num tom agradavelmente descontraído. A voz narrativa é a do próprio protagonista, sendo possível vislumbrar o seu crescimento na forma como a sua visão do mundo em redor se torna progressivamente mais realista. Mas a criança que falava com a sombra está sempre presente, nas falhas e nos sucessos, e há algo nas suas emoções - na esperança, na perda, naquele amor eternamente preservado - com que é impossível não simpatizar.
Curiosamente, a questão do roubo das sombras acaba por não ser o elemento principal da narrativa. Na verdade, o contacto com as sombras dos que rodeiam o protagonista funciona mais como um meio de descoberta para a vida e para os sonhos, surgindo na medida em que é necessário ao percurso pessoal do rapaz que se torna homem. Serve também como base para uma mensagem de liberdade: a necessidade de aceitar a vontade e os sonhos dos que nos são próximos, de deixar que tomem as suas próprias decisões, é uma das lições que o "ladrão" deste livro tem de aprender ao longo do seu percurso. Fica, pois, por um lado, a curiosidade em saber mais sobre um poder que acaba por não ser muito aprofundado, mas por outro, a impressão de que esse mesmo poder não é assim tão relevante.
Simples e terna, sem grandes elaborações, esta é, na sua essência, uma história comovente, onde o humor e a emoção se misturam para criar uma mensagem de grande emotividade. De amor, de sonho e de descoberta, o percurso da personagem que dá vida a este livro não exigiria nenhum poder especial para se aproximar do de qualquer outra pessoa. E, nesta leitura, o que realmente marca é essa tal realidade entrelaçada no toque de magia inicial.»
As Leituras do Corvo
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