É assim que gosto de me sentir quando descubro uma pérola. Por isso, não percam um dos que desde já não tenho problemas em classificar como um dos livros do ano: Contos dos Subúrbios, de Shaun Tan.
«Este livro – Contos dos Subúrbios (edição Contraponto) – sofre de dois problemas sérios: primeiro, lê-se num instante (todo de seguida, se for caso disso), depois, os invejosos, aqueles que gostariam de ter um dom e não têm, podem começar a pensar: "Como é que este tipo (Shaun Tan, já agora) tem o dom da escrita e, ao mesmo tempo, o do desenho?"
Agora mais a sério: Contos dos Subúrbios é um livro deslumbrante, que conjuga a beleza das ilustrações com a beleza dos textos. Para os mais “distraídos”, esclareça-se desde já que “contos” e “ilustrações” não significa livro juvenil. Sim, os adultos também gostam de livros ilustrados e será preciso ser adulto, ou pelo menos ter alguma “bagagem”, para absorver na plenitude tudo aquilo que Shaun Tan nos conta. Desde histórias com uma mensagem subliminar a outras que contam a história pela história, há de tudo nestes contos, que, como o título indica, nos remetem para um imaginário de subúrbios – pode ser tão belo como o campo, não sejam preconceituosos. Desde aventuras que relembram a infância, a seres estranhos de outros mundos (e do nosso), passando por histórias contadas através de recortes e colagens, há de tudo neste livro feito de muita imaginação e que, melhor do que isso, põe a nossa imaginação a funcionar. Repare bem: nestas páginas há um búfalo enorme que aponta sabe-se lá para onde, um universitário estrangeiro pouco maior do que um amendoim, um escafandrista a vaguear por um rua, uma bola que vai crescendo conforme absorve poemas nunca lidos e depois se desfaz em pedaços de papel que são lidos ao acaso (ideia fantástica!), paus de fósforo (uma espécie de arbustos esguios com pernas mais parecidos connosco do que possamos imaginar) e fala-se de casamentos, de pais e filhos, de irmãos, de lugares mágicos que só esperam que os descubramos, de mísseis intercontinentais espalhados por jardins… Fala-se de vida, das relações, de animais, de aproveitar melhor o que se tem, de saber viver, há uma certa nostalgia pelo passado, etc. Ou seja, faz sonhar: o que mais pode pedir-se a um livro?
Além disso, Contos dos Subúrbios é também o livro perfeito para aqueles que gostam apenas de encher as estantes sem se importarem com os conteúdos: é um álbum belíssimo graficamente, de extremo bom gosto, que fica bem em qualquer lado.
Estão a achar que exagero na minha apreciação ao livro? Se calhar… Mas é o que sinto neste momento que escrevo e sinceramente parece-me difícil mudar de opinião com o passar do tempo. É assim que gosto de me sentir quando descubro uma pérola. Por isso, não percam um dos que desde já não tenho problemas em classificar como um dos livros do ano: Contos dos Subúrbios, de Shaun Tan.»
Rui Azeredo, Porta-Livros, Abril 2011
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